top of page

Por Que os Treinamentos Corporativos Não Dão Resultado (e Como Mudar Isso)

Por décadas, o treinamento corporativo foi considerado a solução universal para lacunas de competências, baixo desempenho e até falta de inovação. Empresas investem milhões em aprendizagem corporativa, mas frequentemente se deparam com uma realidade decepcionante: após o entusiasmo inicial, os colaboradores voltam às velhas rotinas, e os resultados esperados simplesmente não aparecem. 

Por décadas, o treinamento corporativo foi considerado a solução universal para lacunas de competências, baixo desempenho e até falta de inovação. Empresas investem milhões em aprendizagem corporativa, mas frequentemente se deparam com uma realidade decepcionante: após o entusiasmo inicial, os colaboradores voltam às velhas rotinas, e os resultados esperados simplesmente não aparecem. 


A pergunta que ecoa nos corredores das organizações é clara: por que, apesar do investimento, a eficácia do treinamento ainda é tão questionável? E, principalmente: como transformar esse custo em impacto de negócio real, com um ROI de T&D mensurável? 


O problema raramente está nos conteúdos ou nos instrutores. Ele nasce de abordagens desconectadas da realidade operacional e estratégica da empresa. 


ROI em T&D: um olhar estratégico sobre retorno de aprendizagem


O conceito de ROI (Return on Investment), embora tradicionalmente associado a cálculos financeiros, ganha uma camada de complexidade quando aplicado a Treinamento e Desenvolvimento (T&D). Nesse contexto, não se trata apenas de medir lucro versus custo, mas de avaliar em que medida os investimentos em aprendizagem corporativa geraram valor tangível e intangível para o negócio. 


De forma simplificada, o ROI busca responder: “o que a empresa ganhou em contrapartida ao que investiu em capacitação?”. A fórmula clássica ainda é válida: 


ROI (%) = [(Retorno obtido – Investimento realizado) ÷ Investimento realizado] x 100 


No entanto, a análise contemporânea de ROI em T&D precisa ir além da matemática. Isso porque os efeitos do aprendizado não se restringem ao caixa da empresa: eles se manifestam em produtividade, inovação, engajamento e até na capacidade de reter talentos estratégicos. 


Exemplo ilustrativo 


Suponha que uma companhia tenha investido R$ 10 mil em um programa de desenvolvimento comercial. Nos meses seguintes, observa-se um incremento de R$ 30 mil nas vendas adicionais atribuídas ao treinamento. Pelo cálculo tradicional, o ROI seria de 200%.

 

  • Redução no ciclo de vendas, com negócios fechados em menos tempo. 

  • Aumento da taxa de conversão, elevando a eficiência da equipe. 

  • Melhor experiência do cliente, que fortalece a fidelização e a reputação da marca. 


É por isso que líderes de T&D mais maduros falam em ROI ampliado, considerando também métricas qualitativas. 


As Raízes do Problema: Por Que o Treinamento Falha


  1. Desconexão com os Objetivos de Negócio: O erro mais crítico é tratar o treinamento como um evento isolado e não como uma ferramenta estratégica. Treina-se porque "é preciso treinar", não porque há um problema de negócio específico a ser resolvido (ex.: aumentar as vendas em 15%, reduzir erros em processos logísticos em 30%). Sem essa ligação direta, medir o impacto em negócios torna-se impossível.


  2. Foco no "Evento" e não no "Processo": A mentalidade tradicional enxerga o treinamento como um dia ou uma semana de curso. No entanto, a ciência do aprendizado é clara: a retenção de conhecimento decai rapidamente após um evento único. A verdadeira aprendizagem corporativa é um processo contínuo de aquisição, prática, reforço e aplicação.


  3. Falta de Pré e Pós-Trabalho: Os participantes chegam "frios" para o treinamento, sem contexto ou objetivos pessoais claros. Após o evento, são lançados de volta ao seu trabalho sem nenhum plano de ação, apoio gerencial ou sistema de reforço. O conhecimento, não aplicado imediatamente, é rapidamente esquecido.


  4. Ausência de Envolvimento Gerencial: Líderes e gestores são peças-chave no ciclo de aprendizado. Se eles não entendem o conteúdo do treinamento, não reforçam seus conceitos no dia a dia e não criam oportunidades para a aplicação prática, a mensagem subliminar para a equipe é de que aquilo não é importante. O treinamento morre na porta da sala de aula.


  5. Mensuração Inadequada: A eficácia do treinamento é frequentemente medida pela "reação" (pesquisas de satisfação) e, no máximo, pela "aprendizagem" (testes ao final do curso). Estas são métricas fáceis, mas vazias. Elas não dizem nada sobre se o conhecimento foi aplicado ("comportamento") ou se gerou resultados para a empresa ("resultados”). 


E isso não é apenas teoria. Na pesquisa Panorama de Treinamento no Brasil 2019/2020, realizada pela ABTD, cerca de 68% das organizações utilizam apenas indicadores de reação, enquanto apenas 7% chegam a medir os resultados efetivos. Ou seja: a maioria das empresas ainda não conecta T&D a indicadores de negócio — o que perpetua a visão de que treinamento é custo, e não investimento. 


A Mudança de Paradigma: Do Treinamento para o Desempenho


A solução não é fazer mais treinamento, mas sim fazer melhor. É necessária uma mudança de mentalidade: o objetivo final não é "ministrar um curso", mas "melhorar o desempenho organizacional". Eis como transformar a aprendizagem corporativa em uma vantagem competitiva real:


1. Alinhe Estrategicamente com os Objetivos de Negócio (O "Porquê") 


Antes de qualquer desenho de curso, faça a pergunta: "Qual problema de negócio este treinamento vai resolver?" Defina um objetivo SMART (Específico, Mensurável, Atingível, Relevante e Temporal) vinculado a uma métrica de negócio (ex.: reduzir o turnover, aumentar a satisfação do cliente, acelerar o time-to-market). Esta é a única maneira de calcular um ROI de T&D genuíno.


2. Adote uma Abordagem de Journey de Aprendizagem (Do Evento ao Processo) 


Substitua o evento único por uma jornada contínua de aprendizado. Isso inclui: 


  • Pré-work: Vídeos curtos, leituras, quizzes e reflexões para preparar o terreno. 


  • Evento de Aprendizagem: Focado na prática, simulação e colaboração, não apenas na transmissão de conteúdo.


  • Pós-work e Reforço: O mais crucial. Use microlearning (pílulas de conteúdo), desafios práticos, comunidades de prática, mentoria e sessões de follow-up para garantir a aplicação e retenção.


3. Engaje os Gestores como Facilitadores do Aprendizado 


Os gestores devem ser co-pilotos do processo. Antes do treinamento, briefe-os sobre os objetivos e conteúdo. Peça que conversem com seus colaboradores sobre as expectativas. Após o treinamento, sua função é criar oportunidades para aplicar as novas habilidades, fornecer feedback e modelar os comportamentos desejados. O impacto em negócios é multiplicado quando a liderança compra a ideia. (Leia:  Como implementar um Programa de Feedback contínuo para melhorar a produtividade e satisfação dos membros da sua equipe) 


4. Meça o que Realmente Importa (Da Satifação ao Impacto) 


Avance além das pesquisas de satisfação. Implemente um modelo robusto de avaliação como o de Kirkpatrick/Phillips:


  • Nível 1 - Reação: Ainda importante para engajamento inicial. 


  • Nível 2 - Aprendizagem: Avalie a aquisição de conhecimento e habilidades.


  • Nível 3 - Comportamento: Observe e avalie (através de pesquisas 360°, observação direta, análise de dados de performance) se o colaborador está aplicando as novas competências no trabalho. Esta é a métrica mais crítica para a eficácia do treinamento.


  • Nível 4 - Resultados: Meça o impacto em negócios direto (aumento de vendas, melhoria da qualidade, redução de custos). Compare os resultados com o custo total do programa para calcular o ROI de T&D. 


5. Personalize e Torne o Aprendizado Ágil 


Utilize plataformas de LMS (Learning Management System) e LXP (Learning Experience Platform) que oferecem aprendizagem sob demanda, com conteúdos curados e personalizados conforme a necessidade de cada colaborador ou equipe. A aprendizagem corporativa moderna é just-in-time, não just-in-case. 


Conclusão: O Treinamento como Investimento, não como Custo


A era do treinamento corporativo como um evento genérico e desconectado chegou ao fim. Para sobreviver e prosperar em um mercado dinâmico, as organizações devem tratar o aprendizado como um processo estratégico contínuo, integrado ao fluxo de trabalho e rigidamente alinhado aos resultados desejados. 


A mudança exige um investimento maior em planejamento, mensuração e envolvimento da liderança, mas o retorno é exponencial. Quando você para de perguntar "Quantas pessoas treinamos?" e começa a perguntar "Qual foi o impacto em negócios do nosso último programa?", você transforma o departamento de T&D de um centro de custo em um motor estratégico de crescimento, finalmente capaz de demonstrar um ROI de T&D claro e inquestionável.  

Comentários


bottom of page